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Escrita Terapêutica: O Poder da Palavra na Cura Emocional

Foto do escritor: Paula W'ärdPaula W'ärd

Atualizado: 18 de nov. de 2024

Passei por uma situação muito difícil na infância. Com apenas 6 anos, fui separada da minha mãe. Vivíamos em uma fazenda na Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, onde minha vida era repleta de aventuras a cavalo. Tinha contato com diversos animais, incluindo lobos que apareciam com frequência. Meu banho era no rio, e não havia água encanada ou luz elétrica. Lembro de um gerador barulhento que, em raros momentos, era ligado apenas para fazer funcionar um rádio, através do qual tínhamos acesso às notícias do mundo.


Essa realidade mudou drasticamente quando um oficial de justiça me levou para morar com meus avós em Ipanema, no Rio de Janeiro. Meus primeiros dias na escola foram marcados pelo terror e pânico. Até hoje, recordo-me de ficar encolhida em um canto, apavorada, observando aquelas pessoas que nunca tinha visto antes. Naquela época, o termo "bullying" ainda não existia, mas eu conhecia bem a dor de ser excluída. Eu era como um bichinho do mato, alvo de piadas e brincadeiras de mau gosto, sentindo-me deslocada e vulnerável entre as crianças. Como nunca havia frequentado a escola, não sabia ler e só conseguia escrever meu nome, mas aprendi rapidamente. A leitura tornou-se meu refúgio. Minha avó, que era uma ávida leitora, logo encheu minha estante com coleções de Monteiro Lobato e clássicos de princesas. Durante muito tempo, não tinha amigos, e com os adultos sempre ocupados, passava todo momento fora da escola imersa na leitura.


Aos 8 anos, já tinha uma mini biblioteca. Nessa idade, ganhei da minha avó o livro Contos do Esconderijo, que me apresentou à história de Anne Frank. Devorei esse livro e o reli várias vezes. Depois, minha avó me presenteou com O Diário de Anne Frank, uma obra que me marcou profundamente. Até então, eu só tinha lido livros infantis, e a profundidade daquele diário me levou a reflexões profundas sobre a vida.

Percebi que minha situação não era nem de longe tão ruim quanto a de Anne. Comecei a valorizar o que tinha: comida em abundância, um apartamento maravilhoso perto da praia e uma família que me amava, incluindo Alda e Penha que são dois anjos na minha vida. Fui capaz de aceitar o que o destino tinha reservado para mim.


Entretanto, a dor pela ausência da minha mãe permanecia. Foram 18 anos separadas, e foi com o diário de Anne Frank que aprendi a escrever para extravasar. Colocava no papel minha tristeza, raiva e frustração. E, de uma forma quase mágica, sentia-me muito melhor após isso. Pensava na pequena Anne, que enfrentava tantas privações, e seguia minha vida da melhor maneira possível.


Anos depois, fiz um ritual significativo: queimei todos os meus diários em uma fogueira, como um rito de passagem. Pedi que o passado ficasse onde pertencia e declarei que estava pronta para escrever uma nova história para minha vida. Afinal, somos os protagonistas da nossa própria história, e eu não estava disposta a ficar sentada na plateia. A vida é movimento, e para ser feliz é preciso ter disposição e coragem.


A escrita terapêutica é uma prática que vem ganhando destaque nos últimos anos como uma forma eficaz de promover o autoconhecimento, a autoexpressão e a cura emocional. Utilizada por psicólogos e terapeutas, essa técnica oferece um espaço seguro para que os indivíduos explorem seus pensamentos e sentimentos, contribuindo para o bem-estar mental.


O Que é Escrita Terapêutica?


A escrita terapêutica envolve a prática de registrar pensamentos, emoções e experiências pessoais em forma escrita. Pode ser realizada de várias maneiras, como diário pessoal, cartas não enviadas, poemas ou até mesmo narrativas de vida. O foco principal é a autoexploração e a expressão livre, sem a preocupação com regras gramaticais ou estrutura formal.


Benefícios da Escrita Terapêutica


  • Autoconhecimento: Ao escrever sobre suas experiências e sentimentos, o indivíduo tem a oportunidade de refletir sobre si mesmo, reconhecendo padrões de comportamento e emoções que podem não ser evidentes no dia a dia.


  • Redução do Estresse e Ansiedade: A prática da escrita pode servir como um alívio emocional. Colocar os sentimentos no papel ajuda a liberar tensões acumuladas, proporcionando uma sensação de leveza e clareza mental.


  • Processamento de Traumas: Para muitos, a escrita se torna uma ferramenta poderosa para lidar com traumas e eventos difíceis. Ao narrar suas experiências, as pessoas podem recontextualizar suas vivências, promovendo a cura emocional.


  • Aprimoramento da Comunicação: A escrita terapêutica pode melhorar a habilidade de comunicação, ajudando os indivíduos a expressarem melhor seus pensamentos e sentimentos, tanto na escrita quanto na fala.


  • Desenvolvimento da Criatividade: Este processo também estimula a criatividade, permitindo que os indivíduos explorem novas formas de expressão e autodescoberta.


Como Praticar a Escrita Terapêutica


Para começar a prática da escrita terapêutica, não é necessário seguir regras rígidas. Aqui estão algumas sugestões:


  • Diário Pessoal: Reserve um tempo diário ou semanal para escrever sobre seu dia, seus sentimentos e reflexões. Não se preocupe com a perfeição; o importante é ser honesto consigo mesmo.


  • Escrita Livre: Escolha um tema ou uma emoção e escreva sem parar por alguns minutos. Deixe fluir tudo que vier à mente.


  • Cartas Não Enviadas: Escreva cartas para pessoas que impactaram sua vida, expressando sentimentos que você nunca teve a chance de compartilhar.


  • Poemas e Histórias: Experimente escrever poemas ou pequenas histórias sobre suas experiências, transformando emoções em arte.


A escrita terapêutica é uma prática acessível e poderosa que pode ajudar muitos a enfrentar desafios emocionais e a promover o autoconhecimento. Ao dedicar tempo para se expressar por meio da escrita, cada indivíduo pode trilhar um caminho de cura e transformação pessoal. Assim, as palavras se tornam não apenas um reflexo de nossas experiências, mas também uma ponte para o bem-estar emocional. Se você está buscando formas de lidar com suas emoções, considere a escrita como uma aliada nessa jornada de autodescoberta.


Aqui estão algumas sugestões de livros sobre escrita terapêutica que podem ser inspiradores e informativos:


  • "O Diário de Anne Frank" – Embora não seja um livro de escrita terapêutica, a obra de Anne Frank é um poderoso exemplo de como a escrita pode ajudar a processar emoções e experiências difíceis.


  • "A Escrita como Terapia" de James W. Pennebaker – Este livro explora como a escrita pode ser uma ferramenta de cura emocional e apresenta pesquisas sobre os efeitos benéficos da escrita expressiva.


  • "The Healing Power of Writing: A Therapist's Guide to Using Journaling with Clients" de Regina G. Smith – Um guia prático que oferece estratégias para terapeutas utilizarem a escrita em seus atendimentos.



Esses livros oferecem diferentes abordagens sobre como a escrita pode ser uma ferramenta poderosa para a cura emocional e o autoconhecimento.


*Como associada da Amazon, eu recebo por compras qualificadas.

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